As manhãs de outono lento e frio,
as luvas de lã mal cerzidas e gastas
são um pouco da infância ainda pura
gravada na pouca memória – imagens
das paisagens tomadas de neblina
e de um eu franzino indo à escola...
Fui menino de outrora – mas nem restam lembranças...
Manhãs assim – a aragem de montanha
encobre os rastros do passado esmaecido
e ganha a vida um contorno mais nobre
desse outono de mim – outra noite vencida
induzido a ter sono e a perder mais história
enquanto lá fora há crianças passando...
São meninos de agora – alegres crianças!
As manhãs vazias – e o vazio dos sonhos
são os mesmos de outrora, mas de tais fragmentos
eu me tento inteirar, ajuntando os pedaços
do passado remoto e os pedaços do agora...
Mas, as luvas de lã tão pequenas, perdidas
não aquecem e não cabem – saudades apenas
das mãos pequenas em que coubera a esperança!
Reinaldo Luciano © Direitos Autorais reservados
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