terça-feira, 23 de abril de 2013

Dies Domini


Numa pífia manhã de um corpo insone
em que a mente translúcida flutua
na nulidade em ter amanhecido
eu procuro um sentido que impulsione
o meu corpo cansado e a mente nua.

E no estertor febril da manhã pálida
a mente ausente e inútil não trabalha
e se amortalha inerte, fria e inválida
sem ilusões, sem sonhos – e sem nada!
Eu sobrevivo torto a outra alvorada.

Reinaldo Luciano ©Direitos Autorais reservados

segunda-feira, 1 de abril de 2013

Impressões




Imprimo versos pictográficos
em cuneiformes traços - não são signos,
porém dignos do papiro picotado...
Um verso branco, um manco, e um controverso
mantido o anverso imaculado;
ao fim do fisiológico esforço
eu torço - é lógico - e espero
um mero olhar descuidado
a ler o aviso impresso:


Favor usar o verso; este lado já foi usado...

Reinaldo Luciano ©Direitos Autorais reservados

Subsistência


No sacrossanto templo que é meu corpo
após exéquias tristes e enfadonhas
e em lá menor um réquiem oficiado
dá-se um banquete de mim em despedida.
Eu sou servido aos decompositores
em meio a flores – cravos e jasmins!

O tempo passa e eu volto à forma pura.
Em relva verde cresço na colina
deixando à terra um vasto relicário...
E me rumina a vaca – outro repasto;
eu alimento o mundo! É minha sina
de volta ao solo em forma de excremento!

Mas outra parte etérea de mim mesmo
caminha a esmo, livre da matéria!
Eu sou lembrança, amor, dor e saudade.
Retrato amarelado na parede
enquanto a sede vida me amortalha
eu, morto, assombro a própria eternidade...

Reinaldo Luciano ©Direitos Autorais reservados