quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Hades



Ausento-me por vezes de mim mesmo
e a esmo, caminhante por umbrais,
não mais percebo a tênue claridade
e um hades na penumbra cresce mais...

Perscruto a solidão, sigo indefeso
e preso às sensações inaturais
de tais lucubrações – louca ansiedade,
vontade em não voltar de lá jamais...

Mas volto – ainda vazio – ao frio quarto
e parto a minha mente em mil pedaços
sem laços pra romper com meu passado.

Cansado ainda de mim eu adormeço
e esqueço enfim meu pesadelo interno
do inferno em que vivi quando acordado...


ReinaldoLuciano© Direitos Autorais Reservados

segunda-feira, 22 de julho de 2013

Raízes


Fico perdido, mas aceito
este vazio em minha vida
e este espaço aberto em meu peito...
Aceito, calado,
partidas cada vez mais constantes;
pessoas distantes, idas...
Sem voltas...
Contudo, não me atreve a questioná-las
porque fazem parte da vida...
E da vida eu sei quase que nada!
Não reclamo
se eu perco os que amo...
Mas é triste perder um amigo
e não tê-lo mais ao meu lado...
Não reclamo
porque faz parte da vida e da morte;
é mais que uma questão de sorte
dividir a jornada um pouco mais...
Amigos, família...
Cada um seguindo o seu destino
e compartilhando parte da vida...
É somente uma questão de sorte
mas incomoda demais...
É triste, mas chega a ser natural,
porque a morte é normal!
O que não é normal é a saudade
que invade o peito da gente!
É pena não ser diferente...
O amigo se vai, e penso:
Quem sabe, talvez, um dia...
Mas, quando se vai sempre deixa uma parte,
um pouco de si arraigado na alma da gente...
É o que nos faz manter a calma
e o que nos faz seguir em frente! 

ReinaldoLuciano©

sexta-feira, 17 de maio de 2013

Dia gris




O dia acordou em tons de gris...
Da preguiça do sol e teimosia das nuvens
amanheci sem cores
mas sabendo de memória o arco-íris!
Não vi matizes,
porém, vi contornos...
Não senti o calor do verão já ao fim
mas, senti-me aquecido
enternecido de amores
e cores não vistas!

Amanheci em tons de cinza
e embora não veja o azul do céu
eu me sei como o sol (mesmo não visto)
e insisto
e sou feliz...

ReinaldoLuciano©

sábado, 11 de maio de 2013

Insônia


A noite cai... e avança...
Rolo na cama...
Fico à espera do sono que não vem...
Velho drama
da insônia que me impõe seu castigo...
A vigília forçada
e outra noite sem sono
no abandono dos lençóis...
Outra noite... mais uma...
Olho ao lado a que dorme e ressona...
E eu aqui sem dormir...
Quero rir... ou gritar,
mas é noite; e os vizinhos...
Eles dormem, também!
Tudo dorme... é a noite!
E eu, insone, escutando o silêncio
e o longínquo ladrar de algum cão.
Noite, madrugada, insônia...
Triste combinação!
Os ponteiros avançam, sem pressa,
como se dormissem também...
Amanhece...
Ela acorda e diz: “Bom dia!”
Mal respondo... é o humor.
Deixa a cama vazia
e eu só, a esperar...
Sinto o dia... é o agito...
Quase grito, mas enfim!
Finalmente eu vencido,
sinto sono! Agradeço!
Amanhece... adormeço...
E me apago
feito uma lâmpada cansada da noite
e que não clareia o dia!

ReinaldoLuciano© ‏

Nas horas mortas


São quatro da manhã - pra que tantos relógios?
Se me basta o envenenado espetar de um só ponteiro
enquanto avança a madrugada...
Nada de mais - ademais o silêncio é que atordoa
enquanto a aranha se assanha no canto esquecido da parede
e tece sua teia indiferente qual fosse um destino...

Eu - menino - em pleno voo apanhado, calado,
colhido e tolhido de quaisquer movimentos...
(nem ousa o pensamento e não se mexe)
Minha alma finge-se de morta
enquanto entra sob a porta, sorrateiro e indesejado,
o frio do outono/inverno...

São quatro e meia...
Ponho nos pés frios um tardio par de meias já puídas –
como a vida puída sem meias-verdades...
Lá fora a lua míngua distante e calada;
minguada também é a mensagem que se perde:
Merde! (em bom francês, mas também fede)
E a madrugada avança indiferente
ao penetrante dardo (ponteiro) no bardo diletante...
A sede não cede - nem a fome.


— Pede-se não fumar! - Nem tome água...
nem tome da mágoa envenenada!


Madrugada ressoa o silêncio...


Tome vergonha, pamonha! Esqueça o necrológio!
Esqueça o martelar da consciência na cabeça
e quebre de uma vez esse relógio...


ReinaldoLuciano© ‏

terça-feira, 23 de abril de 2013

Dies Domini


Numa pífia manhã de um corpo insone
em que a mente translúcida flutua
na nulidade em ter amanhecido
eu procuro um sentido que impulsione
o meu corpo cansado e a mente nua.

E no estertor febril da manhã pálida
a mente ausente e inútil não trabalha
e se amortalha inerte, fria e inválida
sem ilusões, sem sonhos – e sem nada!
Eu sobrevivo torto a outra alvorada.

Reinaldo Luciano ©Direitos Autorais reservados

segunda-feira, 1 de abril de 2013

Impressões




Imprimo versos pictográficos
em cuneiformes traços - não são signos,
porém dignos do papiro picotado...
Um verso branco, um manco, e um controverso
mantido o anverso imaculado;
ao fim do fisiológico esforço
eu torço - é lógico - e espero
um mero olhar descuidado
a ler o aviso impresso:


Favor usar o verso; este lado já foi usado...

Reinaldo Luciano ©Direitos Autorais reservados

Subsistência


No sacrossanto templo que é meu corpo
após exéquias tristes e enfadonhas
e em lá menor um réquiem oficiado
dá-se um banquete de mim em despedida.
Eu sou servido aos decompositores
em meio a flores – cravos e jasmins!

O tempo passa e eu volto à forma pura.
Em relva verde cresço na colina
deixando à terra um vasto relicário...
E me rumina a vaca – outro repasto;
eu alimento o mundo! É minha sina
de volta ao solo em forma de excremento!

Mas outra parte etérea de mim mesmo
caminha a esmo, livre da matéria!
Eu sou lembrança, amor, dor e saudade.
Retrato amarelado na parede
enquanto a sede vida me amortalha
eu, morto, assombro a própria eternidade...

Reinaldo Luciano ©Direitos Autorais reservados

domingo, 3 de março de 2013

O mundo é um Ó



Olhai, obtusos ornejantes,
o oráculo onírico e obsedado,
oculto e obscuro, observando
o ósculo da ocisão!
Orai! O ócio obscurece
as ocas órbitas oculares
e os orifícios odientos
ousam obsecrar o óbolo de ontem...

Ofendi-vos? Ótimo!
Ossos do ofício...

O orbe é o ômega
e eu, o ogro orbícola
ostentando ouro em ombros oberados...
Obceca-me o ônus do óbito – o ocaso
e o oásis do olvido...
O óbice ao objetivo
é ouvir a ofensa e o opróbrio
e omitir-me!

Onde obter os ornatos do opúsculo ordinário?
O original obliterado
na obediência ordenada – opressiva!
Ouso obrar de oitiva:
o orbe é um ó!

Reinaldo Luciano ©Direitos Autorais reservados

sábado, 9 de fevereiro de 2013

Verdades


Conheço cada palmo do teu chão
como da minha mão conheço a palma,
como da calma eu só conheço um não,
como conheço o preço de minha alma...

Conheço, da saudade, no teu seio,
em cada veio, um traço de verdade,
como a vontade de um suave enleio;
como se um meio de não ter saudade...

Conheço o laço da que me aprisiona
como se dona fosse do meu passo,
mas que ao espaço vago me impulsiona...

Conheço a lona... E tombo e me desfaço
como estilhaço – mina que detona
e que abandona o peito em mil pedaços.

Reinaldo Luciano ©Direitos Autorais reservados