segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Pequeno poema de amor, silêncio e dor


Dói mais em mim

o teu silêncio
do que já me doeu o teu amor!




Reinaldo Luciano ©Direitos Autorais Reservados

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Inumana dor

 

Lixo-me para a dialética do socialismo gordo e rubicundo,
para o mercado de capitais e capitais pecados
do terço desfiado e sem rosário – espinhos, talvez.

Lixo-me! Lixo-me outra vez para a verdade
e a veleidade inútil democrática...
Antes a socrática saída – porém, nobre!
A sociedade cobre estas feridas...

Lixo-me mesmo para a vida – origem, meio e fim!
Não mais me iludo com o lixo acumulado da fartura,
e sobrevivo avesso à literatura inusitada
montada sob o efeito de palavras escolhidas
e a esmo unidas sob um manto de cultura...

Lixo-me mesmo para a vida e a morte!
Tornei-me estrume imune aos seus avanços
e no ranço sentido eu me misturo
e lixo-me por viver do escuro lado avesso às gentes,
mormente pelo tudo não visto e não sabido...
Não vi e não sei, mas eu me lixo!
Sem lei é o mundo – obscuro;
e eu – bicho homem – me afundo mais neste monturo
de sonhos nus e enfadonhos
disputando o espaço infecto com urubus...

Lixo-me por ser homo erectus
quase quadrúpede – tão curvado – um bípede involuto e involuído.
Neste monte de lixo esquadrinhado
eu luto sem ter vivido
e lixo-me!

© Reinaldo Luciano -  Direitos Autorais Reservados

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Retratos da alma de um poeta



Poesia não se escreve... sente-se.
Ainda que seja um protesto,
deve ser um protesto sentido...
Se não, não tem sentido.
Poesia é assim – algo que nasce em sentimento
e se transforma em palavras;
é um instantâneo do momento vivido
e que vai amarelando na gaveta da alma
até que um dia nos reconheçamos na velha fotografia.
Isso é poesia!
O reconhecimento...
É o momento vivido, sentido...
A poesia não se escreve – se revela.
É como uma janela
que se abre para dentro da alma da gente.


Reinaldo Luciano © Direitos Autorais reservados

sábado, 14 de janeiro de 2012

Crucifixo

Pelas duras penas que esta vida encerra
na jornada eterna de nós sofredores
é que nos tornamos tristes sonhadores
quais vagantes órfãos ao final da guerra;


E de passo em passo, vamos pela Terra
em pedras e espinhos, renegando as dores,
na sofreguidão de encontrar amores
e noutra ilusão que a razão enterra...


Pelas duras penas quase abandonamos
o caminho, a vida, a verdade e a luz
por medo da dor que não suportamos...


E de passo em passo, carregando a cruz
tememos os cravos, mas nos entregamos.
É apenas medo... Não somos Jesus.

(obs.: continuo ateu)

Reinaldo Luciano

sábado, 7 de janeiro de 2012

Quando eu for velho


Quando eu for velho, se for velho e não me for,
ainda irei, no fim, viver intensamente,
mesmo se o corpo esmorecer de tão cansado;
A mente intensa há de querer frágeis lembranças
ainda quando me faltar massa cinzenta.
E embora velho e sem memória e sem vigor
verá, quem queira, por detrás do olhar distante
meu eu menino saltitando em poças d'água.


Quando eu for velho, se for velho e não me for
terei vencido tudo mais - estarei pronto.
E ao me livrar do velho corpo estarei rindo
das desventuras que hoje penso ter vivido.
Ah! velho tonto! É-me tão bom quando me ensinas
e me preparas ao futuro que eu te lego...
E se eu me for antes de ter envelhecido,
guarda meus sonhos junto aos teus... Depois eu pego.


Errante


Perdi-me de mim na encruzilhada dos anos
enquanto estive só...
Dias sem sol, noites sem lua
e uma nua realidade envelhecida!
A vida qual estrada no deserto
e eu me cobri do pó da nulidade
de não ter mais a mim ou mais alguém;
Viver era um exercício da vontade...

A vida se desfez no pó dos anos,
no pó dos planos desfeitos,
no sufocar do peito e no ardor dos olhos;
vida seca - desertificação de sentimentos
e secura das lágrimas (ou mágoas)
numa estrada de pó;
é triste estar só e mais triste ser só...

Cruzei quarenta anos de deserto
e não me sinto certo de onde estou;
Será que um dia chega?
Será que me alcança
a parte de mim que ficou?

Reinaldo Luciano © Direitos Autorais Reservados

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Logradouro



Sempre bem-vindo às tantas ruas, logradouros
onde, solenes, meus amigos já distantes
deixam seus nomes, e lembranças – meus tesouros
dos tempos idos, companheiros, militantes.

Mas, se caminho sem pesar e é reconforto,
ao mesmo tempo em que divago, me entristeço...
Sabê-los parte do que é vivo e do que é morto
É meio e fim; eterno e, sim, um recomeço.

Quando for hora – e não por hora! – que eu não dê
nem que se queira, numa forma de homenagem
meu nome a beco lá na terra do Dendê
onde praticam anual rito: a lavagem...

Já fico aflito de pensar nos foliões,
bexigas soltas nas calçadas e portões...

Prefiro a honra de poder manter-me seco
a dar o nome de Bemvindo a qualquer beco!

Deem meu nome à ruazinha sem saída
que tenha a esquina na Avenida da Saudade
e desemboque no Jardim da Liberdade;
igual àquele que plantei com minha vida!




Ao ator e cidadão Bemvindo Sequeira, baseado no texto de sua autoria, publicado em seu blog ( clique aqui para ler ) em 03/01/2012